3.1.09

DEU NO JORNAL A TARDE

02/01/09


Zé do Caixão sertanejo se prepara para filmar A Lenda da Lagoa Vermelha II


Biaggio Talento, do A TARDE

Ele está de volta. Depois de um ano e meio sendo enrolado com promessas de patrocínio, o cineasta Eutímio Carvalho, autor de quatro filmes de terror (entre eles seu grande sucesso A Maldição de Cíntia), todos produzidos na sua cidade, a minúscula Cícero Dantas, sertão baiano, resolveu arregaçar as mangas e realizar por conta própria sua nova fita, A Lenda da Lagoa Vermelha II, com a ajuda dos produtores Jorge Mello, Duda Falcão e Sílvio Pedra Branca.

É a mesma equipe que trabalhou no A Lenda da Lagoa Vermelha I, média-metragem produzido em 2007 que faturou vários prêmios em festivais do Brasil e Portugal: Prêmio do Público de 2° Melhor Filme do V Arouca International Film Festival, Portugal; Prêmio de Melhor Filme do 1° Festival de Vídeo Digital de Jundiaí (SP); e Prêmio de Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Atriz (Tereza Garcez) do mês de junho por voto popular na Mostra Vídeo Independente, Porto Alegre (RS). Nada mal para quem costumava exibir suas fitas no velho galpão de feijão da região de Cícero Dantas.

ORIGEM – A premiação abriu possibilidades de uma carreira internacional para Eutímio, esse professor de química e locutor de rádio, que aprendeu rudimentos teóricos da Sétima Arte através de um curso de arte dramática por correspondência e complementou o aprendizado fazendo fitas com atores amadores, ideias originais e equipamento emprestado.

A TVE quer exibir o filme premiado, mas o autor só pretende liberá-la para a TV após a participação em festivais brasileiros em março e abril.

Enquanto isso, o foco de Eutímio é a continuação. As filmagens de A Lenda da Lagoa Vermelha II começam no dia 25 de janeiro. No momento a equipe está definindo as locações e arrecadando recursos para bancar a empreitada. O filme foi orçado em R$ 100 mil, mas como o patrocínio falhou, ele resolveu acionar o velho sistema de captação de recursos utilizado, com certo êxito, nos filmes anteriores: pedir ajuda ao comércio e às prefeituras da região.

Eutímio tem percorrido açougues, mercadinhos e supermercados para garantir o rango da equipe de cerca de 40 pessoas que deve estar envolvida na produção e torce pelo apoio dos novos prefeitos para conseguir a grana a ser utilizada no pagamento das despesas de hospedagem dos atores e técnicos de Salvador que participarão do filme.

Não é o tipo de dificuldade que desanime esse Zé do Caixão sertanejo. Na verdade os problemas se parecem com as maldições de seus filmes, as quais os personagens têm que enfrentar com muita coragem.

Num de seus filmes, Bravios do Sertão, por exemplo, orçado em R$ 300 mil, só conseguiu R$ 6 mil e quase apanha da equipe da cidade de Juazeiro que contratou para produzi-lo. Para o primeiro A Lenda da Lagoa Vermelha, conseguiu R$ 20 mil, nas suas palavras "um recorde" em termos do que está acostumado. Contudo, só teve condições de conclui-lo graças à ajuda da turma do Pólo de Cinema da Fundação Cultural do Estado que se encantou com a possibilidade de estar envolvido com a feitura de um filme de terror na Bahia.

A continuação do Lagoa I deve consumir 15 dias de filmagens em equipamento de vídeo digital. "Tem mais técnicos de Salvador nesse projeto, pois nós queremos melhorar ainda mais a qualidade", disse o cineasta que, como sempre, é o autor do roteiro, baseado nas histórias de assombração de Cícero Dantas.

Nesse segundo filme da série, a mãe dos dois rapazes vítimas da maldição da lagoa maldita no primeiro vai procurá-los, tenta desvendar o mistério e se associa a um bruxo para produzir um contrafeitiço visando a combater as almas penadas do lugar.

Os planos de Eutímio para 2009 vão além dessa continuação. Quando esteve em Portugal, no festival de Arouca, foi contatado por executivos da produtora Lightbox que se interessaram em co-produzir um longa-metragem com o cineasta de Cícero Dantas, cujo título será Berrador, outra lenda da região, que parece ter se sido colonizada por um bando de almas penadas e lobisomens.

BUROCRACIA – "Está dependendo do projeto ser aprovado no programa de co-produção Brasil/Portugal do Ancine (Agência Nacional de Cinema)", disse. Mais uma vez a burocracia e a insensibilidade como obstáculo na vida de Eutímio parecem assustar mais que as assombrações. Ele não abandonou também o projeto de realizar um remake do A Maldição de Cintia, uma produção mais profissional, com potencial para ser exibido em qualquer cinema do País, mas depende de verbas.

Por enquanto, vai continuar improvisando, sem perder a criatividade. Seus endemoniados continuam a destilar gosma branca pela boca com ajuda de Sonrisal e das lacerações dos personagens jorram sangue produzido com uma mistura de xarope de groselha e açúcar. Técnicas apreendidas pelo cineasta no curso de Ferimentos cenográficos que fez em Salvador.

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