15.4.06

Sintonia fina - Imprensa X Poder

Em março, publicamos três postagens ferindo um tema delicado: a relação da imprensa com o Poder Público. A primeira postagem veio a lume no dia 17, sob o título "Amadorismo jornalístico"; a segunda, no dia 18, denominada "Amadorismo jornalístico - II"; e, a terceira, no dia 27, à qual foi atribuída a epígrafe "Perna curta".

Embora não tenhamos nos afastado uma sílaba da verdade, fomos questionados a respeito numa memorável entrevista concedida ao radialista Cleisson Cardoso, na Rádio Educadora AM de Ribeira do Pombal. Demos o assunto por encerrado. Contudo, a revista VEJA (desta semana), na coluna de Diogo Mainardi, reproduzida, ontem, na íntegra, por Cláudio Humberto, traz elouqüentes subsídios que nos confortam e confirmam a nossa opinião. Vale a pena passar os olhos:

"Mainardi denuncia jornalistas

O colunista Diogo Mainardi, da revista Veja, volta a denunciar as relações de jornalistas com o poder, na edição desta semana. Leia a íntegra do artigo "Jornalistas são brasileiros":

"Nas últimas semanas, a imprensa tem sededicado a analisar a frouxidão moral dosbrasileiros. Está certo. Isso ninguém discute. Mas a imprensa certamente não é muito melhor"

Franklin Martins é o principal comentarista político da Rede Globo. Um de seus irmãos, Victor Martins, foi nomeado para uma diretoria da Agência Nacional do Petróleo. Os senadores que aprovaram seu nome levaram em conta o parentesco ilustre. Luiz Otávio, do PMDB, comentou: "Os 42 votos favoráveis a Victor Martins são uma homenagem nossa ao jornalista Franklin Martins". Heráclito Fortes, do PFL, concordou: "Ele acrescenta à sua biografia o fato de ser irmão de um grande jornalista". Aloízio Mercadante, do PT, arrematou: "Victor Martins é um profissional competente e vem de uma família marcada pelo processo de resistência democrática". Lula entregou a Agência Nacional do Petróleo ao PCdoB. Victor Martins não obteve o cargo através do partido. Ele foi indicado diretamente na cota de seu irmão, Franklin Martins. Ivanisa Teitelroit, mulher de Franklin Martins, também já mereceu sua parcela de cargos públicos. Deve ser a isso que Aloízio Mercadante se refere quando fala em "resistência democrática".

Nas últimas semanas, a imprensa tem se dedicado a analisar a frouxidão moral dos brasileiros. Está certo. Os brasileiros são moralmente frouxos mesmo. Isso ninguém discute. Mas a imprensa certamente não é muito melhor. Franklin Martins não representa o único caso de promiscuidade entre jornalistas e poder político. Pelo contrário. Há exemplos semelhantes em todas as partes. Recentemente, Helena Chagas, chefe da sucursal de O Globo em Brasília, foi flagrada tramando com Antonio Palocci um esquema para desmascarar o caseiro Francenildo Costa. O marido de Helena Chagas, Bernardo Felipe Estellita, é servidor concursado da Câmara dos Deputados e intimamente ligado ao PT. Nos dias que antecederam a quebra do sigilo do caseiro, ele foi visto circulando pelo Ministério da Fazenda. Por outro lado, a irmã de Helena Chagas, Cláudia Chagas, foi indicada por Márcio Thomaz Bastos para o cargo de secretária Nacional de Justiça. Uma de suas responsabilidades é rastrear o dinheiro do valerioduto remetido ilegalmente para o exterior. Inclusive o que abasteceu a campanha de Lula.

Não é só no PT que isso acontece. Eliane Cantanhêde, chefe da sucursal de Brasília da Folha de S.Paulo, é mulher de Gilnei Rampazzo, um dos donos da GW, a produtora que cuidou das últimas campanhas eleitorais de Geraldo Alckmin e de José Serra. Gilnei Rampazzo é sócio de Luiz Gonzales, o marqueteiro escolhido pelo PSDB para coordenar a campanha presidencial de Geraldo Alckmin. Ele foi acusado pela Folha de S.Paulo de participar de um esquema de desvio de recursos da Nossa Caixa. Deve estar a maior confusão na casa de Eliane Cantanhêde. Lula Costa Pinto é outro jornalista confuso. Ex-jornalista. Ele é genro do ex-deputado Paes de Andrade e concunhado de Anderson Adauto, ministro dos Transportes lulista e receptador do mensalão. Lula Costa Pinto também se beneficiou de desvio de dinheiro público quando era assessor do deputado petista João Paulo Cunha.

Os brasileiros são moralmente frouxos. Os jornalistas são brasileiros.'"

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