20.12.08

Política baiana

  • Salseiro na Bahia
Aliados de Lula, Geddel Vieira Lima e Jaques Wagner entram em rota de colisão e ameaçam romper em 2010

Gedel: “Quando setores do PT esgarçam a relação com o PMDB, cabe reafirmar o óbvio: o governador se sinta livre para proceder como lhe convier ”

Wagner: “Manifesto minha indignação pelo apoio do PMDB ao DEM justamente quando o presidente Lula chegou à Bahia ”



Na terra do acarajé, azedou de vez a relação entre o PT, do governador Jaques Wagner, e o PMDB, do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Por ora, os dois aliados do presidente Lula, de olho nas eleições de 2010, evitam precipitar uma ruptura oficial. Mas tanto no PT como no PMDB o rompimento é considerado uma questão de tempo. O mais recente round dessa queda-de-braço que começou durante a campanha para a eleição municipal foi travado na semana passada, depois que o prefeito reeleito de Salvador e aliado de Geddel, João Henrique (PMDB), participou de uma palestra na capital baiana organizada pelo DEM. No encontro, ao lado do prefeito reeleito de São Paulo, Gilberto Kassab, do presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), e do presidente regional do partido, ex-governador Paulo Souto, João Henrique disse que a tendência do PMDB na Bahia é se aproximar do Democratas. Ao justificar a aproximação com o partido de Souto e ACM Neto, o prefeito de Salvador atacou o PT. “Atribuo a aproximação com o DEM à atitude do PT, né? A desfaçatez de nos trair. Ao contrário do Democratas, que não participou dos quatro anos do meu governo e teve essa postura de, no segundo turno, fechar conosco.”
As declarações do prefeito foram recebidas pelo governador Jaques Wagner como outro “duro golpe” do PMDB. A aliados, o governador disse que ficou “chocado” com a atitude de Henrique e que o prefeito está “sendo ingrato”, apesar de todo o apoio que o governo estadual tem dado a ele. Para piorar, na avaliação de integrantes do governo baiano, o gesto e as afirmações de Henrique não poderiam ter ocorrido num momento pior. Durante a semana, Lula esteve na Bahia, onde participou, em Sauípe, de encontro com chefes de Estado do continente e do Caribe. “Enquanto Lula prestigiava o Estado e a capital, Henrique fez o absurdo de participar de um evento ao lado de partidos adversários do presidente”, reclamou uma pessoa próxima a Wagner. “Manifesto minha indignação pelo apoio do PMDB ao DEM justamente quando o presidente Lula chegou à Bahia”, disse Wagner. O presidente do PMDB baiano, Lúcio Vieira Lima, irmão de Geddel, disse que não viu nada de mais no encontro. “João Henrique apenas foi convidado a participar de uma palestra e, gentilmente, aceitou”, afirmou o dirigente à ISTOÉ.
“Quando setores do PT esgarçam a relação com o PMDB, cabe reafirmar o óbvio: o governador se sinta livre para proceder como lhe convier”, diz Geddel. O estilo Geddel de fazer política assusta os petistas baianos e suscita comparações com o velho modo carlista. Para aliados do governador, por trás da movimentação do ministro da Integração no tabuleiro da Bahia está sua pretensão de se candidatar ao governo do Estado em 2010, o que seria um atropelo a Wagner, candidato natural à reeleição. Lula, que teve de intervir na campanha municipal para o caldo dessa moqueca de intrigas não entornar, já sabe que, muito em breve, mais cedo até do que imaginava, terá um problemão na Bahia para administrar. Wagner pertence ao grupo de amigos mais próximos a Lula e o ministro Geddel integra um partido do qual o presidente não pode abrir mão.

Fonte: Istoé 2042.

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